Capítulo 1: 1988 – O Ano em Que Tudo Começou


O mundo em 1988 era um lugar de contradições. De um lado, Reagan e Gorbachev ainda trocavam olhares tensos, mas a União Soviética já sangrava pelas feridas abertas da perestroika. Do outro, o Brasil, ainda engatinhando na democracia, via José Sarney tentar equilibrar um país inflacionado e sedento por direitos. Em outubro, a Constituição Cidadã nascia, cheia de promessas—e eu, sem saber, chegava ao mundo no mesmo ano em que o país decidia, no papel, que todos mereciam dignidade.

Em Poços de Caldas, a política tinha nome e sobrenome: Adnei Pereira de Moraes, o homem que comandava a cidade das águas termais enquanto o Brasil se reinventava. Eu não lembro, claro, mas imagino que o ar devia cheirar a café e esperança—ou seria só o cheiro do verniz dos discos de vinil tocando "Que País É Este", da Legião Urbana? A música era um soco no estômago da geração pós-ditadura, enquanto as rádios internacionais insistiam em "Roll With It", do Steve Winwood, um refrão otimista que contrastava com o clima de desconfiança no ar.

No cinema, "O Último Imperador" levou o Oscar, mas foi "Beetlejuice", o fantasma brega de Tim Burton, que dominou as bilheterias. Enquanto isso, nos fliperamas e nos Nintendinhos recém-chegados ao Brasil, "Super Mario Bros. 3" virava vício—e eu, anos depois, perderia horas tentando salvar a Peach. sem saber que, naquele mesmo ano, o jogo era novidade.

O futebol? O Bahia levantou a taça do Brasileirão, derrotando o Inter com uma raça que contrastava com o momento de transição da seleção brasileira: em Seul, o time olímpico conquistou a medalha de prata após cair na final para a União Soviética, mostrando que, mesmo em reconstrução, o futebol brasileiro ainda tinha DNA de grandeza.

E a ciência? O vírus HIV ainda era um mistério aterrorizante, a internet mal engatinhava—nem se chamava "internet" direito, era coisa de universitário e militar—, e a NASA tentava se recuperar do trauma da Challenger com lançamentos cautelosos. Enquanto isso, num hospital de Poços na Santa Casa, eu vim ao mundo, no mesmo ano em que a Constituição garantia, pela primeira vez, que pessoas como eu—com deficiência ou sem—teriam direitos iguais. Na teoria.

O mundo não sabia, mas 1988 era só o começo. Da minha história, da queda do Muro, dos games, da música que viraria nostalgia. Eu também não sabia. Só chorava, comia e dormia, inconsciente de que, décadas depois, estaria aqui, escrevendo sobre tudo isso—e sobre o que ainda viria.

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