Além das Limitações Físicas: A Luta contra a Prisão da Deficiência
No fundo da minha existência, envolto em minha deficiência física, ergo minha voz carregada de raiva e ódio. Não por ser uma pessoa com limitações, mas sim por ter que constantemente provar minha humanidade além das barreiras impostas pelo meu corpo. Nasci com a amiotrofia espinhal tipo 2, uma condição que aprisiona meus movimentos, mas não minha capacidade de pensar, sentir e ser um ser racional.
É uma prisão injusta, onde sou condenado sem ter cometido crime algum. Vivo acorrentado por ter nascido "diferente", uma alma aprisionada em um corpo limitado. Minha existência se torna um constante desafio, onde a sociedade insiste em me colocar à prova. Diariamente, sou obrigado a demonstrar que sou mais do que minha deficiência, que sou uma pessoa completa, com sonhos, desejos e sentimentos que vão além das limitações físicas.
Recentemente, deparei-me com a música "Castelo Triste" https://www.youtube.com/watch?v=TZX3PwQWej4, do grupo de rap Facção Central, que conta a história do irmão do artista, também com deficiência. O refrão da canção ecoou em minha mente e trouxe reflexões profundas:
"Joga a última flor
Não chora quando o caixão partir
É a ponte levadiça do castelo triste
Se abaixando pra eu fugir"
Essas palavras me fizeram refletir sobre minha própria condição. Senti-me tocado pela ideia de que só serei verdadeiramente livre quando a tampa do caixão finalmente se fechar. Pois, enquanto estou vivo, dependo dos outros para realizar as atividades mais básicas: comer, beber, higienizar-me. Meus desejos estão aprisionados em uma cela escura, no fundo de uma masmorra, enquanto meu corpo é o cruel executor, privando-me da autonomia que tanto almejo.
A vida passa lentamente, enquanto minha condição se deteriora diariamente, por causa de um gene ausente chamado SMN1. Esse erro genético, que parece ser a vontade divina, me leva à destruição gradual. No entanto, Deus não será responsabilizado por essa tragédia. Ao contrário, continuará sendo adorado por seus filhos que, cegos pela fé, ignoram as dificuldades e a injustiça que enfrentamos. Parece que tudo está bem para eles, desde que a deficiência não os atinja.
Este desabafo vem de um homem exausto, que lutou para encontrar alguma medida de bem-estar em sua vida, apenas para ser arrastado cada vez mais fundo nos esgotos de um mundo caótico, onde poucos são privilegiados e muitos são esquecidos.
Mas, apesar de toda a minha raiva e ressentimento, devo buscar a força para seguir em frente. Devo transcender a raiva e encontrar um sentido além das circunstâncias que me cercam. Minha deficiência pode ter me privado de certas experiências, mas não pode definir quem sou ou a extensão da minha humanidade.
Neste momento de desabafo, clamo por uma sociedade mais inclusiva, que reconheça e valorize a diversidade de habilidades e perspectivas. Desejo que todos encontrem em seus corações a compaixão e a empatia necessárias para enxergar além das aparências e entender que cada pessoa, independentemente de suas limitações físicas, é uma expressão única da humanidade.
Meu objetivo é libertar-me das correntes invisíveis que me mantêm prisioneiro em meu próprio corpo. Anseio por uma sociedade que não me condene a uma vida de provas constantes, mas que me permita florescer em meu pleno potencial, livre dos estigmas e preconceitos. Pois, afinal, somos todos seres racionalmente além de qualquer deficiência.
Andre Marinho
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