Tive a honra de participar da palestra/aula do professor Guilherme Terreri abordando o tema Literatura LGBT na FliPoços Feira literária da minha cidade.

Vou tentar relatar a minha experiência do dia, que na verdade começou na noite anterior, pois não conseguia dormir de ansiedade. Para contextualizar minha fala, deixe-me explicar primeiro como fui apresentado à senhora Rita Von Hunty pela minha fisioterapeuta respiratória na época. Ela me mostrou dentro da sala da fisioterapia o vídeo "Rita em 5 Minutos: Consciência de Classe". Depois desse vídeo, minha mente explodiu. Fui me aprofundando cada vez mais nos vídeos dela. Engraçado como tudo foi se juntando, pois minha literatura estava voltada para esse aspecto, o que eu estava consumindo também estava indo nesse sentido, e a Rita veio para unificar tudo, explodindo a minha mente, já que ela consegue de forma clara e didática trabalhar o Marxismo, a sociologia, as questões da moralidade da sociedade. Ela fala de forma clara os problemas que enfrentamos e traz as soluções. Ela está disponibilizando um curso no seu canal, o ABC do socialismo, que está sendo algo incrível. Basta você assistir ao vídeo e procurar as referências que ela cita que você já sai mais forte na questão do estudo, mais forte nas questões políticas. Sei que estudar não é fácil. Não basta só colocar o bumbum na cadeira e ler ou assistir a um vídeo. Estudar demanda tempo, atenção e dedicação. Mas se você faz tudo isso com um vídeo didático, extrovertido e prazeroso de assistir, esse estudo passa a ser diferente.
Hoje acredito que o jovem, no primeiro momento, ele não quer ler "O Capital. Crítica da Economia Política", um conjunto de livros escrito por Karl Marx. Ele vai ser introduzido no assunto através de um vídeo, e a senhora Rita faz isso de maneira competente. Pegando a deixa que já citei o senhor Karl Marx, faço um breve resumo do seu histórico. Karl Marx foi um filósofo, economista, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista alemão. Ele nasceu em 5 de maio de 1818 em Trier, na Alemanha, e faleceu em 14 de março de 1883 em Londres, na Inglaterra. E dentro do canal "Tempero Drag", apresentado pela senhora Rita, tem uma playlist em homenagem ao senhor Karlinho, como ela carinhosamente o chama, e também acaba sendo uma homenagem ao método de análise que ele propôs, o famoso materialismo histórico. Fica a dica de conteúdo a ser consumido. Diante do que foi exposto acredito que deu para perceber que sou fã do trabalho do Guilherme Terreri.
Voltando para a palestra, cheguei mais cedo na Feira Literária e observei algumas falhas na questão da acessibilidade. Fui na administração do evento e pontuei essas falhas para deixar claro que estamos insatisfeitos com isso. Precisamos de atenção, e não adianta ter algo bonito esteticamente, mas não funcional. Precisamos pensar em todos os públicos se queremos ser uma feira acessível, façamos por onde. Cheguei cerca de 1 hora mais cedo para reservar um lugar bacana em frente ao palco.
A palestra do professor começou às 5:30 e foi legal ver aquela praça cheia. Só para contextualizar, o evento foi aberto na praça e a mesma ficou lotada, o público era o mais diverso possível, e isso foi maravilhoso. Não irei fazer um resumo da palestra inteira aqui, até porque não tenho mais memória para lembrar de tudo, mas vou pontuar o que achei pertinente, o que consegui absorver para minha vida, na luta da pessoa com deficiência na busca de equidade para os meus. Sempre tive a percepção de que alguém está falando algo. Esse alguém que está buzinando na nossa cabeça é a classe dominante, que quer passar seus costumes, suas visões, seu estilo de vida. Ver o Guilherme falar abertamente disso em um espaço público foi gratificante, pois muitas vezes eu me senti sozinho nos meus estudos. Hoje tenho companheiros que pensam da mesma forma que eu, que compreendem quando falo algo nesse sentido e reforçam, trazendo mais conteúdo para a minha fala, um complementando o outro, um apoiando o outro. E o Guilherme pontuou muito nessa questão da classe dominante que quer ditar seus costumes, moral e valores. Diante de tais falas, fica claro que precisamos estudar o passado para compreender o presente e para que no futuro não se repitam as mazelas. Para reforçar essa ideia, ela trouxe uma analogia entre a diferença em escultura e artesanato. Acho que fica bem claro que ele quis dizer que o artesanato é do hippie maconheiro, e a escultura é do Burguês. A escultura é bem vista, mas muitos se esquecem de que todas são artes. Agora, quem nomeou essas coisas? Quem colocou as ideias nas palavras? Já respondendo à pergunta, existe uma classe que nomeia as coisas, que dá valor às coisas, só que essa classe não é a das minorias, e sim a classe dominante, que hoje em dia é a classe burguesa, dos capitalistas, de quem tem o poder e quer manter o status quo. Estou resumindo bem. O professor Guilherme deu uma aula sobre essas questões e não ficou só nisso. Indo nessa toada, ela trouxe o exemplo da Carolina Maria de Jesus, a primeira mulher preta a vender um milhão de livros no Brasil. Em contrapartida, a Clarice Lispector ficou mais conhecida, por quê?
Todo processo humano tem história. Cada povo, a cada tempo, decide o que é ou o que não é certo ou errado. Dentro disso, entramos na sexualidade, já que em determinada época da nossa sociedade não existiam os padrões que temos hoje. Esses conceitos morais foram estabelecidos por pessoas que ditavam os costumes da época. Com isso, voltamos à disputa do poder, pois as relações podem ser normalizadas ou não diante da visão daqueles que detêm o poder. Por isso que o diferente muitas vezes incomoda. Está sendo algo que não é para ser, ou melhor dizendo, está sendo algo que o outro não quer.
Em uma das falas dele, ele trouxe a pergunta: o que é crime? Passamos a entender que o crime é um discurso da esfera de poder, já que temos um exemplo claro do que vem acontecendo com o indivíduo do Porsche, que estava adulterado por bebida alcoólica e o mesmo matou um motorista de aplicativo e não foi preso. E se fosse ao contrário, um jovem periférico em seu carro que tivesse feito isso, será que ele estaria solto ou preso? Então, a definição de crime é aquilo que uma classe dominante vai definir.
Ele adentrou no aspecto do que é doença? No que é pecado? No que é piada? E de todas as perguntas, chegamos à resposta que são discursos que estão sendo passados em determinada época. Esse discurso é narrado por pessoas conservadoras que tripudiam em cima do pobre, preto, favelado, homossexual, pessoa com deficiência e do transexual. Esse discurso muitas vezes vem para diminuir toda uma luta e jamais vai querer dar o reconhecimento e valorizar uma minoria. Esse discurso faz piada com a minoria, desmoralizando ela para que aqueles que não possuem instrução, caiam nas suas armadilhas E quem são as pessoas que não possuem instrução na maioria das vezes? Assim, essa produção burguesa ideológica acaba sendo comprada pelo pobre e acaba consumindo esse discurso, e no final, acaba virando inimigo dos seus.
O professor Guilherme também traz em sua fala que a classe dominante consome tudo o que a minoria faz. Só que os recursos não ficam com as minorias, os produtores desses conteúdos, e sim para esses abastados que exploram os seus semelhantes para ficar mais rico. Outro exemplo que estou citando é o do show da Madonna que vai acontecer no Rio de Janeiro. Quem vai ganhar mais dinheiro com isso? Vou dar uma dica: quais hotéis estão mais próximos? Os quiosques e os ambulantes vão ganhar um dinheirinho sim, mas toda a produção desse espetáculo vai ficar na mão de quem? Vai ser um pagamento justo? A classe dominante consome o produto das minorias para fazer dinheiro, para ganhar em cima. Um exemplo disso é o carnaval, uma festa que sai de dentro da comunidade e é apropriada pela classe burguesa. Quanto vocês acham que está um camarote na Sapucaí? Esse dinheiro vai para a comunidade ou vai para os empresários?
Por fim, indo mais para a minha esfera, que é da pessoa com deficiência, ele citou um exemplo e isso me fez refletir novamente sobre isso. Já tinha ouvido algo semelhante a um tempo atrás, e eu sempre pontuo isso nas minhas palavras, mas agora vou pontuar com mais afinco. Deficiente é o espaço e não a pessoa, porque precisamos ficar impregnados na questão da mudança, na questão de uma cura que nunca vai existir, sendo que podemos corrigir sim o espaço para torná-lo acessível para todos, eliminando as barreiras. As pessoas com deficiência precisam entender isso, precisam ter essa consciência de classe para nos fortalecermos e assim conseguirmos avançar na nossa luta. 
Não podemos ficar só na questão assistencialista, isso ferra a nossa causa. O que buscamos são direitos, não ajuda. Se o espaço precisa ser acessível, que seja. Pensem num contexto geral, não só no próprio umbigo. Reforço que deficiência não é doença, deficiência é uma característica e não precisa ser corrigida. Deixe-nos viver com o que nós temos, isso não é errado, nós não precisamos corrigir nossos corpos. Vamos sim tentar corrigir as mazelas que a sociedade nos impõe com essa política de exploração em cima da pessoa com deficiência. A causa da pessoa com deficiência dá voto, vocês acham que o Teleton existe porque? A causa da pessoa com deficiência dá dinheiro. É mais fácil ficar ajudando e limpando a moral do burguês do que corrigir e sanar os problemas, porque muitas vezes o burguês que ajuda é aquele que faz um tanto de coisa errada. Não vou ficar entrando no mérito do que é certo o que é errado, mas um exemplo bem básico é espancar a mulher. Aí vem o remorso, o mesmo vai e doa uma parcela de dinheiro, aparece no noticiário tudo bonitinho, pomposo, ajudando as pessoas com deficiência, trabalhando na questão da caridade, vai na igreja, fala para o seu líder religioso que tem feito. Assim, o seu ato de violência acaba sendo esquecido. Só um adendo: o Teleton e o Criança Esperança são de emissoras gigantes nacionais que utilizam o seu espaço para arrecadar dinheiro para a causa das crianças e das crianças com deficiência. Só que essas emissoras são bilionárias e elas pedem dinheiro para o público que na maioria das vezes é pobre, com um salário baixo, para ajudar. Sendo que a mesma fazendo doação consegue isenção no imposto de renda. Se as emissoras tivessem boa vontade mesmo, as mesmas se uniam, faziam uma doação muito foda que iria proporcionar um ensino de qualidade para todas as crianças e todas as crianças com deficiências, elas iriam realmente fazer uma campanha de inclusão no horário nobre. De acordo com uma última pesquisa feita pelo IBGE, o Brasil possui mais de 18 milhões de pessoas com deficiência. Vamos ser sinceros: se essas emissoras quisessem, elas conseguiriam recursos para pagar o ensino superior de qualidade para estas 18 milhões de pessoas. Se elas quisessem realmente, elas fariam a diferença na base da educação básica também, proporcionando oportunidade de acesso para todos. Vamos além: será que estas emissoras estão cumprindo a lei de cotas no limite, ou será que as emissoras possuem mais funcionários com deficiência do que a lei de cota? É uma pergunta pertinente. O que dá mais engajamento? Aquela pessoa com deficiência aceitável, passiva, que não quer questionamento, que vem com discurso meritocrata, coitadismo, também usando a deficiência como superação? Ou uma pessoa com deficiência que conhece sua realidade, que entende que precisa de mudanças e provoca essas mudanças? Diante disso, quem que vai vender mais com este discurso?
Nesses anos todos, na internet e fora dela? Nunca ganhei R$ 0,01 para o meu trabalho, por que será? Não sou capacitado ou não estou falando aquilo que essa classe opressora quer?
Reparem bem nessa questão da mensagem a ser passada, aquilo que eu pontuei no início. O que é arte ou artesanato, olha essa figura de linguagem e faça uma reflexão citada no início do texto.
Sei que essas críticas vão fechar muitas portas e janelas, mas este é o meu jeito de pensar e de ser. Vamos pensar juntos na raiz do problema e buscar solução, e não vamos ficar fazendo ações sem propósito, sem uma certeza. Fazer ação para elevar a moral, lembre-se, o remédio placebo às vezes funciona, mas em muitas das vezes não funciona. Você precisa do remédio real para solucionar o seu problema.
Por fim, a aula acabou. Fui tirar uma foto com o professor Guilherme e realmente fiquei satisfeito com o que eu ouvi, com o que eu vi. Ele é um homem simpático, conversou brevemente comigo, mas sempre olhando em meus olhos e sendo a pessoa que ele é, um Freiriano que passa a educação através da troca. Acredito que ali ele percebeu isso. Este foi o dia que entrou para minha jornada de aprendizado.


PS. Eu sei que temos muitas pessoas que são ajudadas por essas emissoras nesses eventos. Minha crítica não está nas ações em si, mas sim na falta de resolução definitiva do problema. É mais do que obrigação delas estarem fazendo isso, porém deveriam investir com recursos próprios e não com dinheiro da população.






Comentários

  1. Nossa, André, muito boa sua a abordagem sobre a "palestra/aula" do ator-professor Guilherme Terreno na Flipocos. E tudo o que vc abordou, a partir desse evento maravilhoso da Flipocos.

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